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Saturday, January 06, 2007

Crítica de Cinema - Transe

De Costas Voltadas
“O que queres de mim?”


Por caminhos por onde o cinema Português sempre trilhou é onde nos leva o último filme de Teresa Villaverde. Nada de novo no planeta Villaverde.

O filme acompanha a trágica história de Sónia, uma entre muitas, que caí no tráfico de mulheres para os negócios de prostituição da Europa Ocidental. Vêm com promessas de um futuro melhor no Ocidente mas acabam exploradas e muitas vezes enganadas por amigos dos seus países de origem que as vendem como “carne” sem qualquer tipo de remorso. É o instinto de sobrevivência. Mas as par uns sobreviverem muitos acabam sacrificados. É este o destino de Sónia.

Fugindo de uma vida inexistente na Rússia emigra para a Alemanha, para um trabalho precário, mas honesto e por intervenção de um “suposto” amigo acaba nas malhas da prostituição. A partir deste momento e até ao final (demasiado estranho, diga-se) é um descer ao abismo. Tudo lhe acontece. Não há limites para a depravação humana.
E o desespero e a capacidade de sofrimento de Sónia só é possível com uma grande interpretação de Ana Moreira. Ninguém sofre como Ana Moreira, no cinema Português, e Teresa Villaverde sabe isso. Daí a sua escolha num elenco, quase totalmente, de origem estrangeira. A “actriz do método” portuguesa esteve em S. Petesburgo e aprendeu Russo durante cerca de uma ano para dar uma maior credibilidade à personagem. Como o próprio Willem Dafoe disse no Festival de Cannes “Que interpretação espantosa. Que capacidade de sofrimento. Nunca vi nada assim”. E razão para isso tinha ele em dizer.

Mas para um grande filme não basta uma grande actriz. É preciso que o público se identifique com a personagem. E os longos planos, filosóficos, plenos de significado, belíssimos (não há dúvida), quebram o ritmo e fragmentam o filme num conjunto de curtas metragens que não completam um todo.
Os puristas podem dizer que é um filme belíssimo, pleno de arte e que é urgente promover para não deixar morrer a forma de arte que é o cinema. O problema é que está à muito provado que é possível unir os dois num só. O próprio Scorsese consegue-o fazer no seu último filme, que até é um “remake” mas ao qual consegue impor o seu estilo pessoal e todo o seu conhecimento do que é cinema.
Teresa Villaverde é mais uma realizadora voltada de costas para o público. Encerrada na sua noção do que é cinema, sem olhar para o que os outros possam pensar ou mesmo querer para esta história. Todos têm o direito de o fazer mas o problema é que isto não afecta apenas os seus filmes mas o de todos os futuros realizadores portugueses. O Nosso cinema tem de evoluir do “Cinema do Umbigo” para cinema com C grande. Os espectadores clamam por mudança. Eu pelo menos. E acho que os números da estreia falam por si. 1300 espectadores em 4 salas de cinema por todo o país.
Não estou sozinho. E quem escreve deste lado é ainda alguém que acredita que o cinema Português pode mudar.

Que o Messias do cinema Português chegue depressa.


Nota do Filme - Transe - 3/10

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