Crítica de Cinema - Infiltrado
A primeira palavra que vem à mente, aquando do anúncio deste filme "Inside Man", como o próximo filme de Spike Lee, seria vendido. Assistindo a uma sessão do filme, apercebemo-nos é que Lee não só não se vendeu como enganou os estúdios de Holywood a dar-lhe 50 milhões de dólares, e acabou por fazer um filme Lee. Só não o vê lá quem não quer.
Mas não pensem que o filme é um dos melhores de Lee, porque o não é. Está longe do brilhantismo de "Malcom X" ou de "Não Dês Bronca", mas também o argumento a trabalhar está definido e um "Heist" movie não é a temática mais fácil para fazer um filme original. Voltando ao argumento, de Russell Gerwitz, o filme acompanha o assalto de um banco por Dalton Russell (CLive Owen, inimitável como "cool" guy). O assalto de banco acaba por evoluir para uma situação de reféns em que ninguem é quem aparenta ser, ou será que realmente é. Entra em accção uma equipa de detectives, liderada por Keith Frazier (Denzel Washington - em piloto automático, pois o próprio admitiu que teve apenas 9 dias para treinar a a personagem, mas sempre com qualidade assinalável) e Bill Mitchell (Chiwetel Ejiofor, melhor que Washington, mas também com pouco para mostrar-são poucas as cenas em que entra). O seu objectivo é terminar este assalto ao banco com o menor número de vítimas. O assalto será liderado por John Darius (Willem Dafoe, num papel acessório-ter dinheiro faz destas coisa não é senhor Lee). Claro que isto não fica por aqui e o dono do banco, Arthur Case (Christopher Plummer, cujo destaque vai para uma cena no final arrepiante-grande frieza), envia uma emissária (Jodie Foster-que parece estar a divertir-se como gente grande neste papel de "bitch") para tornar tudo, ainda, mais confuso.
O argumento tem qualidade, e isso não pode ser negado. Já foi tudo visto em filmes anteriores, podem dizer, mas também já se diz que todas as grandes histórias da humanidade foram plagiadas da bíblia e adptadas ao tempos em que foram escritas ou realizadas. O filme está organizado por camadas, das quais é necessária atenção para seguir a trama do filme. E há que admitir que o twist final do filme (apesar de não totalmente inesperado. é delicioso). A ironia sempre foi um prato que adoro bem servido. A dicotomia bons a fazer de maus e maus a fazer de bons, tem também muitas implicações filosóficas. Será que uma má acção pode justificar a realização de um bem maior.
Mas Lee não se deixa consumir pelo argumento, e acrescenta cenas e situações que só poderiam vir da sua cabeça. A confusão entre um Sikh e um árabe e a sua revolta (tensões raciais), o seu comentário social com a conversa entre o míudo que joga um jogo muito violento e o assaltante protagonizado por Clive Owen. E claro não poderia faltar o sexismo marcante (marca autoral) em que o seios de uma suspeita são utilizados como maneira de distinguir entre dois possíveis suspeitos. E os interrogatórios a ambas as mulheres não é propriamente cara-a-cara, se é que me entendem.
Por isso, como estava a dizer, só não vê Lee quem não quer ver. As marcas autorais estão lá. E a mestria da realização também, pois conduz o filme mantendo a nossa mente a funcionar e a acção a desenvolver. O que seria um thriller interessante nas mão de outro realizador, torna-se aqui muito mais. Pois Lee procura as motivações dos indíviduos e a sua relação com a sociedade num mundo pós 11 de Setembro. E isso é Lee, por muito que custe a ver.